Holofote partiu
Deixou sua marca
Corrimão surgiu
Do auto da barca
-Doutor, que devo fazer? Se o que faço é o que não devia ter feito e o que não devia ter feito é só o que sei fazer.
Estás num inferno
E o clima é ameno
Selvagem inverno
És de lírio veneno
-Servente, onde está a travessa? A condessa já me espera. E não queremos que aconteça o mesmo que aconteceu com a Marquesa.
É Incompetência!
Não, não, maldade!
É tua incoerência!
Maldita liberdade…
E a Marquesa insatisfeita disse “Porra!”, batendo com as mamas em cima da mesa, mas lembrando-se da esmerada educação recebida na suíça retirou o “Porra!” e disse “Chiça”.
{Não foi por mal.}
Cale-se canalha!
Piedade é irreal.
Doutor! A navalha.
-Mandou chamar Marquesa?
-Prepare outro caldo.
-Outro caldo excelência? Ainda não acabou o que lhe servi. Não gostou?
-Doutor! A navalha.
-Marquesa só sei fazer bons caldos! Não fui ensinado a fazer caldo de outra forma!
Como não gostou?
Só caldo gostoso
É feito na cozinha
Água fervo formoso
Digo não à navalhinha
-Marquesa, gosta deste caldo?
-Doutor! A navalha.
-Não! A navalha outra vez não!
Tenha piedade.
-Canalha! Isto é maldade! Piedade é irreal.
-Não é Marquesa! Só não sei o que estou a fazer mal!
-Não sabe?
A navalha!!
-Nunca tinha feito caldo mal!
-Só te ensinaram a lidar com os bons Caldos? Não me acredito.
Doutor! O raio da navalha pá.
Bom caldo! Mau caldo!
Mudei de água, mudei a carne
Ai ai ai. Achei meu caldario!
Doutor, vá buscar a pá.
-Marquesa, achei os melhores ingredientes para fazer um caldo majestoso. Que lhe parece?
-Pode sair.
Doutor!!
-Quer a navalha, minha senhora?-disse o Doutor, tentando antecipar a aclamação.
-Não Doutor. Arranje outro cozinheiro!
Caí redondo no chão
Não sei como me levantar
Ninguém me dá a mão
Nem mão tenho para dar
-Oh Doutor que faço eu agora?
-Cozinheiro, és dos melhores a ferver água.
Já pensaste em fazer disso carreira?
Até já te arranjei uma condessa que está interessada no teu trabalho.
-A sério? Disse lhe bem do meu caldo ou ela provou?
-Nada disso. Ela gosta é mesmo muito de chá.
Caldo sempre foi
Caldo sempre fui
Condessa? eu vou
Aceitei trabalhar para a condessa.
Na cozinha todas as refeições estavam distribuídas pelos os cozinheiros e a mim calhou- me o lanche da tarde.
Ela adorava o seu chá de camomila servido ,exequivelmente, às 17:00 e acompanhado por bolachas amanteigadas de receita dinamarquesa.
E essa foi a minha função durante meses, que deixei que o meu amigo whisky digerisse, até que certo dia foi feito um pedido especial. A condessa ia receber uma amiga e queria que fosse servido um caldo, como era o único com experiência nessa arte foi me destacada essa função.
Doi me a barriga
Será o bicho? nersvosilus ansiosos
Tenho medo da navalha
-Perfeito servente! Eu trato de levar o caldo às nossas excelências.
Quando lá cheguei, fiquei surpreendido, a convidada da minha empregadora era a Marquesa. Quando a reconheci os sintomas característicos da minha infeção ganharam vida.
Parecia que tinha permanentemente alguém a agarrar me a garganta, não o suficiente para me tirar o ar, o que ainda tornava aquilo mais incomodativo.
-Aqui estão os vossos caldos! Espero que esteja tudo de vosso grado.
A condessa pegou na colher e levou o primeiro pedaço de carne à boca. Para alívio meu, a sua alma esboçou um traço de felicidade…
A minha observação da harmonia da condessa foi interceptada pela Marquesa.
-Meu jovem arranja-me uma navalha?
É que tenho uns dentes que fugiram.
Não sei o que me deixou mais revoltado o facto de não ter sido reconhecido ou de nunca ter percebido que a Marquesa era desdentada.
-Claro que sim Marquesa!
Texto por: Bruno Gonzaga